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Freud, Heidegger, Skinner? Onde eu fico?

Por que os professores da faculdade ou nossos colegas insistem em nos perguntar: “Qual abordagem que você vai seguir?” - aqui também tem uma autocrítica, eu pergunto muitas vezes ainda. Mais uma pergunta ingrata, eu nem terminei a faculdade e já querem que eu decida quem eu vou seguir pelo resto da minha vida sendo psicóloga?

Certo, tem aquelas pessoas que já entram estudadas e que já sabem exatamente o que seguir, parece até que sabem mais do que os pensadores. Também tem aquelas pessoas que se encantam no meio da faculdade e passam a estudar profundamente. E tem aquelas, como eu, que nem sabem o que querem. 

Aqui indago de volta com uma pergunta ainda mais ingrata: “Como eu vou escolher uma abordagem se nem vi todas na faculdade?”. Queria saber o que os professores e amigos responderiam. Os professores, eu tenho uma noção: “Mas você vê a base de todas as abordagens.”. O que sabemos que, no fundo, não é totalmente verdade e que mesmo sabendo a base, não faz ficar incrivelmente mais fácil ler os outros pensadores. 

Entretanto, lá estava eu, como uma flor desabrochando para a prática clínica. Precisava descobrir, então mais uma vez eu fui por anulação. Sorte que essa anulação foi mais simples: 

Comportamental - sinto muito meu querido, mas nunca entenderei o que é reforço negativo, positivo e punição, muito menos punição positiva. 

Psicanálise - tentei, fiz um esforço. Mas assim, que? 

Analítica - inconsciente coletivo não rola para mim.

Humanista - me agrada, mas ainda não é isso.

Restou a Fenomenologia. Mas é importante dizer que, por mais que esteja dizendo que foi por anulação, o que fez eu anular todas as outras opções - inclusive as opções de curso na faculdade - foi porque não faziam sentido para mim naquele momento. O que significa que você pode encontrar a abordagem que faz sentido para você, no momento que ela se mostrar. Parece uma corrida maluca para saber quem vai ficar por último no encontro da abordagem, como se isso fosse fazer de alguém menos psicólogo. 

No meu caso eu só encontrei de fato a Fenomenologia no oitavo semestre da faculdade. Eu já tinha tido contato no segundo semestre, mas o que fazia sentido para mim era trabalhar em uma empresa, então não me preocupei com isso. 

Me lembro de uma sessão de terapia que cheguei inconformada para a minha psicóloga. Disse:

"Eu estou entendendo todos os conceitos, eu vejo sentido naquilo que estou vendo, mas eu não consigo me ver desse jeito."

Ela com a maior serenidade de uma psicanalista, respondeu: 

"Talvez aquilo que nos assusta também nos atrai."

Essa frase me acalmou por muito tempo e passei a me dedicar a esse estudo. Lia Heidegger e também lia Boss, mas ainda assim as coisas não faziam muito sentido na minha vida. Era como se eu conseguisse ver as coisas para fora, só que internalizar era difícil. Eu entendia que nós vivemos na impropriedade e na propriedade, a ideia do ser-aí, ser-no-mundo, ser-com-os-outros e ser-para-a-morte, mas era apenas uma compreensão do que eu lia e não uma vivência. 

Em paralelo aos estudos, eu estava escrevendo o meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Querendo garantir uma boa orientadora, ao fim do sétimo semestre eu já havia avaliado e decidido quem seria essa pessoa e conversado. Porém eu ainda estava confusa e querendo muito meu Vale-Refeição. Queria escrever sobre a profissão de business partner, em contrapartida minha professora veio com uma proposta de falar sobre a relação com o bem-estar durante a pandemia da COVID-19. Eu amei aquela ideia. Tinha acabado de passar por diversas crises e estava completamente perdida de mim, tinha colocado todas as minhas conquistas em uma folha e colado na porta do meu armário. Todo dia eu tinha que escrever coisas boas que tinham acontecido no meu dia. Decidi escrever sobre isso. 

E a abordagem que meu TCC foi a Psicologia Positiva. Você pode pensar “Tudo bem, ela decidiu isso no sétimo semestre. Quando começou o oitavo, ela encontrou a abordagem que queria e mudou.”, certo? Errado! Eu só decidi por Fenomenologia no fim do oitavo semestre, isso significa que meu TCC já estava com todo o embasamento teórico pronto, só estava esperando o envio para aprovação para a pesquisa de campo. Tarde demais para voltar atrás. 

Eu terminei meu TCC, em paralelo aos estudos de Heidegger. Eu não tirei a nota máxima nesse trabalho, tirei nove e por muito tempo achei que isso desmerecia o meu empenho, mas eu fiquei satisfeita com a entrega e ainda pude apresentá-lo no Congresso de Psicologia depois do fim da faculdade.

Então chegou o grande momento…

Finalmente o fim da faculdade! Graduada, agora vem talvez o pior momento de uma jovem recém formada, aguardar o Conselho Regional de Psicologia ter a felicidade de enviar alguns dígitos para finalmente poder exercer a profissão. 


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