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Ser e não ser, eis a espera

O que fazer quando se é formada em Psicologia mas não poder exercer aquilo que você se empenhou durante cinco anos para ser? No meu caso eu fiz o que eu podia: estudei. 

Eu pedi um curso para minha mãe de formatura. Um curso em Heidegger, talvez o curso mais mal aproveitado da história. Eu não gosto de Heidegger, ele é confuso, difícil de entender e para que exatamente inventar um monte de palavras novas? Já é difícil compreender a abordagem por si só, agora preciso colocar no meu repertório linguístico mais um monte de outras palavras. Mas eu segui tentando. 

O curso era semanal e era inteiramente sobre Heidegger e Boss. Eu prestava atenção nas aulas, mas eu não me sentia nem um pouco pertencente àquele meio. Talvez por ser a única que ainda não estava atendendo; talvez por eu ser a mais nova do grupo e, a hipótese mais provável, eu não gostava do Heidegger ou do Boss. 

Foram longos quatro meses. Aproveitei para descansar, mas é interessante como fica um limbo de tempo no seu dia. Chega o horário de ir para a faculdade e você, no começo, quase vai mesmo. Depois você sente um prazer em dizer para as pessoas que ainda estão se formando como é bom estar formado. Logo você se torna um detento e começa a contar os dias, o ódio pelo Conselho sobe e você quer ligar, mandar e-mail, gritar que é um absurdo demorarem tanto para disponibilizar um número. 

Nesse meio tempo vem vários pensamentos: “Será que vou saber atender?”; “Eu não lembro nada da faculdade.”; “Eu não lembro nem o que é ser empática, e agora?”; “Será que vou ter pacientes?”; “Como que atende?”; “Será que vou ter uma agenda cheia?”; “Quanto será que vou cobrar?”; “E se ninguém quiser me pagar?”; “E se eu não conseguir ajudar ninguém?”. 

A verdade é que as coisas dão certo, mas que não é instantâneo. Talvez o preço que você deseja cobrar não seja possível logo no começo da faculdade. Talvez sua agenda não fique completa logo no começo. Talvez você tenha pacientes, clientes, como você quiser chamar, que fiquem alguns meses e saiam. Isso não significa que seu serviço é ruim. Isso é um movimento próprio da clínica; não é fácil se acostumar com isso e ter uma rede de apoio pode facilitar esse movimento de compreensão do que, verdadeiramente, significa estar na clínica psicológica.


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