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Ó, Psicologia, o que fizeste comigo?

“O que você vai ser quando crescer?” que perguntinha mais sem noção de ser feita, né? Eu já quis ser tanta coisa! Caixa de supermercado, achava incrível aquele teclado. Depois foi Power Ranger e, alguma parte de mim ainda quer ser até hoje. Queria ser o Vermelho, queria liderar. Depois veio a vontade de ser cantora, feiticeira, estilista, arquiteta, policial e agente do FBI. 

Até que fiz dezessete anos e minha resposta era tão ingrata quanto a pergunta “Nada.”. Nada. Nothing. Nada em espanhol. O que eu quero, decidindo aos meus 17 anos, fazer pelo resto da minha vida? Para ser sincera, tinha algo que eu não queria mesmo, de modo algum, sem chances: ser empreendedora. Parece que paguei minha língua, não é? 

Cresci vendo minha mãe empreender. Ela construiu um patrimônio, mas a incerteza de saber o salário a cada mês me deixava apreensiva. E aqui tive a certeza, trabalharia por um VR (vale-refeição). Segurança, todo mês o salário na conta. Andar de social por aí, tudo mil maravilhas. Mas como chegar nesse sonho? Precisava decidir qual faculdade fazer! 

Fiz o que era possível naquele momento - e talvez seja isso que podemos fazer a cada instante em nossas vidas, o que é possível - fui por eliminação: 

Arquitetura - acho muito legal, adoro decorar minha casa, mas será que eu quero mesmo. Eu nem sei o que é direito. E meu primo disse que queria ser, né? Deixa pra lá. 

Medicina - não, muito obrigada! Eu adoro House, mas não quero me matar de estudar para passar e muito menos ter vômitos e outros fluidos corporais em mim, eu passo! 

Veterinária - não gosto de animais. (Hoje tenho três filhos gatinhos e são as coisas mais importantes do mundo pra mim!)

Letras - eu amo ler, mas não sei. Quem faz Letras só pode ser professor e ninguém vai me apoiar.

E assim foi indo, até restar duas: Psicologia e Engenharia Civil. Pensando hoje, acho que Engenharia Civil nunca foi uma opção mesmo, eu até gostava de física, mas nem tanto assim. E depois descobri que tudo que envolve a Matemática também não é muito legal comigo. Decidi por Psicologia, zero chances de eu passar o resto da minha vida fazendo conta de matemática. Imagina se um prédio cai porque eu errei uma vírgula? Nesse tempo eu não entendia a responsabilidade de ser psicóloga, já me perdoei pela ingenuidade!

Eu tive uma sorte muito grande, nenhum dos meus pais me impediu ou não me apoiou na minha escolha. Eu tive o suporte deles e nunca houve um questionamento ou algum comentário bobo de “Psicologia não dá dinheiro.” Minha mãe sempre defendeu que o que dá dinheiro é trabalho, então, contanto que eu trabalhasse, eu teria dinheiro. 

Por eliminação, escolhi a Psicologia. O contato que eu tive com essa carreira foi uma personagem de Criminal Minds que era psicóloga, mas ela nem atuava como uma. E surge outro dilema: qual faculdade fazer? Foram muitas pesquisas e muitas crenças de que tinha que fazer faculdade pública. Mas a vida de quem quer passar em pública é sofrida, viu? Aguentei seis meses de cursinho e decidi tentar bolsa em uma faculdade de São Caetano do Sul. Motivo dessa decisão: por ter um endereço em São Caetano do Sul, poderia ganhar bolsa integral. Realidade: quando entrei, eles anularam esse tipo de bolsa. 

Apesar disso, estudei intensamente para a prova da faculdade e passei em primeiro lugar. Ganhei uma bolsa pelo primeiro semestre. Começaram as aulas. Isso é importante de dizer: eu sou tímida. Puxar papo, fazer amizades, não é meu forte, mas eu tentei e encontrei meu grupinho. 

Quando procurei por essa carreira, vi que poderia trabalhar em Recursos Humanos, ou seja, estava próxima de realizar meu sonho, trabalhar por um VR! Outra pergunta ingrata é aquela que durante os dois primeiros anos de faculdade sempre fazem “Por que vocês escolheram a Psicologia?” e eu ouvia aquelas respostas de salvar o mundo, acolher pessoas, ajudar o próximo. Eu só queria mesmo um VR. 

Lembro de uma vez no sétimo semestre, eu acho, chegou um professor novo e queria saber o motivo da escolha de Psicologia. Eu respondi “Porque eu assisti Criminal Minds.”, juro que o pensamento dele foi “Essa aí vai se dar mal.” e na aula seguinte, com uma professora amiga dele, ela soltou algo assim “Aqueles que querem ser psicólogos porque assistem série de assassinos estão iludidos de que é daquele jeito.”. Não me senti nem um pouco ofendida ou questionei minha decisão. Eu também nem gostava deles, na verdade! 

Eu sobrevivi aos cinco anos de faculdade - sendo os últimos anos de pandemia, estou aqui há dois anos e sustento a decisão de ser psicóloga a todo momento. Me empenhando, investindo muito em uma carreira que escolhi por eliminação! E posso dizer que eu me sinto muito feliz e realizada a cada momento nessa carreira. Os motivos que me fizeram chegar até aqui foram mudando ao longo dos anos, mas a vontade de permanecer segue.

Foi assim que eu escolhi a Psicologia e não por uma força maior de retribuir a sociedade e melhorar a vida das pessoas. Apesar de ser isso que faço até hoje, mas não foi sempre assim e vou contar o que fez eu desistir do meu querido VR. 


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